Carta a um "brother" do futuro
Daniel, Wesley, Maria e Diana posam em frente ao espelho da casa de luxo (23/3/11)
Boninho foi com sua cara. Seu vídeo de inscrição agradou. Nem foi muito zoado na internet.
Qual é o seu objetivo? Faturar o prêmio de R$ 2 milhões (sim, com correção monetária)? Ficar famoso, posar nu, fazer participação VIP em eventos do interior? Seja lá, qual for, boa sorte.
Mas, antes de entrar na casa, aqui vão alguns conselhos grátis.
Você provavelmente é fanático pelo "BBB". Assistiu a todas as temporadas. Conhece as regras de cor, por mais que elas mudem o tempo todo. E sabe direitinho o que fazer para sagrar-se campeão.
Afinal, desde 2006 que o programa é vencido por caras espertos, que não estavam ali a passeio. Homens brancos de classe média, solteiros e heterossexuais. Que souberam ditar o ritmo do jogo e cativar o público votante, majoritariamente formado por mulheres. Os discípulos do Alemão.
Quer dizer foi assim até 2011, o ano em que escrevo esta carta. Foi no "BBB11" que o paradigma se quebrou.
Os concorrentes que tentaram seguir o antigo modelo vitorioso se deram mal. Um por um, foram todos eliminados.
Verdade seja dita: nenhum deles tinha o carisma de um Diego Gasques ou um Marcelo Dourado. As qualidades dos antigos vencedores foram dispersas entre vários participantes e nenhum deles conseguiu reunir todas. Um tinha beleza, o outro tinha marra, um terceiro simpatia Mas tudo ao mesmo tempo? Não.
Só que não foi só isto. Os telespectadores parecem ter se cansado de um certo tipo de comportamento masculino. Sujeitos que tratam mulher mal, que se fecham em clubes do Bolinha e que sonham alto em chegar à final não chegaram.
Quem chegou foi outro tipo de "brother". Concorrentes que viveram intensamente todas as emoções do confinamento, as boas e as más. Que não fingiram amizades nem reprimiram paixões. Que foram eles mesmos o tempo todo, com transparência e auto-confiança.
Pois é, o Brasil não é a Argentina. Lá no país vizinho o programa é um labirinto de falsos espelhos, cheio de gente dissimulada. Aqui, não: quem tentou tramar alguma coisa foi sumariamente defenestrado. Brasileiro não gosta de segredinhos.
Não tenha vergonha de mostrar seus defeitos, nem de parecer uma pessoa frágil. Não engula o choro nem leve desaforo para casa. Seja respeitoso com as mulheres e os gays, e não confunda chauvinismo com nobreza de caráter.
Mesmo se você perder, o mundo aqui fora te espera de braços abertos. Sua vida nunca mais será a mesma. Mil oportunidades vão surgir.
Aproveite todas, mas antes aproveite a temporada em frente às câmeras. Divirta-se, que o Brasil se divertirá com você.
Uma última dica: antes de entrar na casa, treine tomar banho de maiô. Vai poupar alguns constrangimentos.
TONY GOES
COLUNISTA DA FOLHA
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