quarta-feira, 23 de março de 2011


O quarteto fantástico

E no final o placar nem foi tão apertado assim. 51% para Rodrigão, 43% para Diana. Oito pontos de diferença --maior do que 6% dos votos recebidos por Daniel.

Muita gente se surpreendeu, eu inclusive. As enquetes eram contraditórias e em muitas delas os resultados ficavam dentro da margem de erro. Mas na hora H, não foi isto o que aconteceu.

É tentador enxergar nesse quarteto de finalistas algum sinal de mudança, ainda mais tendo em vista o desfecho da edição passada. Será que o Brasil da era Dilma está mais inclusivo e tolerante?
Vejamos: entre os quatro há um homossexual assumido e bem-humorado. Ele perde as estribeiras quando bebe, mas também demonstra ter um grande coração.

Frederico Rozário/Divulgação/TV Globo
Os finalista do "BBB11": Daniel, Maria, Diana e Wesley
Os finalista do "BBB11": Daniel, Maria, Diana e Wesley

Há uma moça que deixou aqui fora uma trilha de fotos e vídeos comprometedores, mas que lá dentro se revelou simpática, divertida e espontânea.

Outra moça, essa com "cara de rica" (segundo os próprios participantes), poucas papas na língua e uma sexualidade algo exótica para grande parte do público.

E um rapaz hétero porém não machista, de atitudes cavalheirescas. Bonitão, discreto e carinhoso. Ah, e médico --simplesmente o namorado dos sonhos de muitas brasileiras.

É esse grupo inusitado que chega à última semana do "BBB 11". Um resultado inesperado para um programa que teve como primeiro eliminado justamente uma transexual.

Estaríamos todos menos caretas? Gostaria de pensar que sim, mas não é um "reality show" que define os rumos da nação. Fatores como sorte, torcidas organizadas e a boa e velha "afinidade" devem ter pesado, e muito.

Também há um dado novo, apontado por Mauricio Stycer em sua coluna no UOL: a Globo deve ter dado um jeito de não computar os votos emitidos por robôs (na verdade, softwares programados para votar sem parar). Isto explicaria a queda do número de votos recebidos a cada paredão, muito maior que o declínio de audiência do "BBB" do ano passado para cá.
Desse jeito, as "máfias" perdem poder, o que é ótimo. Por outro lado, esta reta final também pode ter perdido uma certa graça. Sobraram na casa quatro personalidades bem distintas, mas amigas entre si. Não há conflitos entre elas, nem implicâncias gratuitas. O clima de colônia de férias voltou a imperar.

Não tenho absolutamente nada contra o Rodrigão: tomara que, assim como a Grazi, ele agora passe pela Oficina de Atores da emissora e se torne um astro das telenovelas. Mas não vou negar que estou feliz com o quarteto remanescente no programa.

No final, restaram os que mentiram menos, os que menos se esconderam, os que não tiveram medo de se expor. Nenhum deles aderiu a um grupinho, nenhum deles se fingiu de amigo de quem não gostava. Sem precisar de conchavos, os quatro chegaram até aqui.
Foram sinceros e desinibidos, e o público parece ter gostado disto. Por este prisma, o Brasil não mudou. Estamos premiando as qualidades que os finalistas parecem ter. Qualidades que gostaríamos de ver em nós mesmos.

TONY GOES
COLUNISTA DA FOLHA

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