'BBB 11': A adúltera do Projac
Por Marcelo Arantes
O maior dramaturgo que o Brasil já teve, Nelson Rodrigues, se estivesse vivo, certamente acompanharia o BBB. Não pelas edições com animações feitas para agradar adolescentes viciados em videogames, mas pelo PPV. Aquele sim era um voyeur nato.
Imaginemos sua descrição das personagens. Talula, apresentada como uma "mãe romântica", tem os atributos das personagens femininas machadianas: planeja e executa as ações, toma a iniciativa, precipita os fatos. Já Rodrigo é suscetível às vontades da mulher, apaixonado, ingênuo e com uma aparente frouxa intuição. Diogo, o amante, é oportunista, capaz de dizer que ama na primeira noite, é a ilusão do começo, um novo alguém para se tentar uma nova chance.
Finalmente vemos algo dramático prestes a acontecer gradativamente aos fundos do Projac: uma traição. Deixemos as soluções moralistas de lado, o traidor aqui é o desejo.
Numa gincana de circo travestida de xadrez, em que as peças são elementos humanos e os jogadores o público e a produção do programa, não estão claro os valores que constituem o "contrato de namoro", e a traição de Talula só ocorreria se ela ela rompesse este contrato sem antes avisar Rodrigo. Como isto vai acontecer ainda não sabemos.
A Psicologia fala da traição de várias formas: não é necessário exclusivamente o envolvimento sexual com outra pessoa. Pode compreender uma mudança nos planos previamente combinados, aquilo que quebre o vínculo sem o consentimento de ambos. Anterior à traição sexual propriamente dita, ocorre a fuga no plano emocional, a recusa do parceiro, o desânimo de estar com ele, e isto já se mostra óbvio.
Por sua vez, envolvido no mistério do novo ou na fantasia do proibido, o amante surge como recomeço, promessa à rotina, gera expectativa sem cobrança. Talula frequentemente reclama de Rodrigo (às vezes pesa a mão) porque consciente sabe que deve explicações ao seu público. Provavelmente acredita que este personagem de namorado regular não convenceu, faliu, e precisa se alimentar de alguém mais carismático que ela, precisa de alguém popular para avançar, alguém que a satisfaça junto às audiências. Talula reclama que Bial não fala com ela, e de repente agora conseguiu que falasse.
Rodrigo, o quase-corno (para usar uma expressão vulgar apropriadíssima), se inteligente poderá se aproveitar da situação. Os homens costumam enxergar a traição feminina como desvio de caráter da mulher e querem se eximir de qualquer responsabilidade ou culpa.
No BBB11, o destino de Talula foi dividido entre antes e depois da festa com os sertanejos Bruno & Marrone. Desde ontem ela deixou de ser a "moldura" à qual Bial se referiu, ganhou espaço na edição e seus comentários ácidos e atitudes polêmicas não devem mais ser poupados. E a ligação com o coreógrafo baiano parece enterrar de uma vez a imagem vendida de mocinha ingênua.
Enquanto aguardamos o desfecho da história, Diogo aproveita o distanciamento de Rodrigo, chega ao balcão, abraça Talula e diz: "Minha gostosa". Talvez não saibam que na vida fora do BBB, iludidos entre sonhos e fantasias, amantes só são encantados enquanto amantes mesmo. Se mudarem o paradigma e assumirem o plano real, no qual os problemas conjugais os esperam de regra, desfaz-se a ilusão. Resta saber se o público vai perdoá-los.
Do extra.globo.com/tv-e-lazer/bbb/