ENTREVISTA DE DOURADO À REVISTA SEXY:
O sentido da vida segundo Marcelo Dourado
...Marcelo Dourado, vencedor da décima edição do Big Brother Brasil é um homem cercado de telefonemas por todos os lados. Entre várias ligações, conversou com a SEXY sobre polêmicas no BBB, poodles ETs, homofobia e suásticas.
Como está a vida depois do programa?
Faz duas semanas que o BBB10 acabou, a agenda está cheia, muita viagem. Estava em um hotel pago pela emissora, só que acabou a mordomia e o passarinho teve que sair do ninho. Me mudei para este apart-hotel, todo mobiliado, já por minha conta.
Ainda não recebi o prêmio...
Demora muito?
A gente assinou um contrato em que consta que os prêmios são entregues em 90 dias. Além do dinheiro, tudo o que ganhamos nas provas: carro, trator, camelo... tudo.
E com que dinheiro você está vivendo?
O dinheiro do apê já é o primeiro que fiz como contratado em um evento, no segundo fim de semana depois que o programa terminou. Foi um desfile pela grife de roupas do Internacional (seu time do coração), em Porto Alegre, minha cidade. Um dia antes de mim, desfilou a Fernanda Lima, pelo Grêmio, e disputamos para ver quem levantava mais a torcida.
E quem ganhou?
A torcida dela foi ao delírio também. Mas ela é bem mais bonita que eu...
É verdade. E quem fecha esses contratos para você? Alguém da família?
Algumas pessoas cuidavam dos meus direitos de imagem, e meu pai era meu representante na família. Só que, quando a gente está no programa, muita coisa acontece, não temos acesso. Houve atritos entre a família e a assessoria, mas tudo já está solucionado, é coisa do passado.
(O telefone toca pela primeira vez.) É o Dudu (Eduardo Coelho, integrante da edição de 2004 do Big Brother, quando Dourado participou do programa pela primeira vez). Vou atender, pra você registrar.
"Dudu! (risos) Pode me xingar! Me lembrava muito de você lá dentro. Foi muito diferente do que o que a gente participou. (...) Dessa vez deu certo (risos). Se você tivesse entrado nesse, seria bem diferente também. Nossa conversa vai sair na SEXY, com a Jose na capa. (...) Eu ainda não recebi o dinheiro e estou só ligando a cobrar. Quando você escutar aquela musiquinha, já sabe que sou eu que estou ligando (risos). Quero ir na sua casa pra gente trocar ideia e "fortalecer” de novo."
Muitos amigos da primeira edição do programa ligam par você?
Sempre. O Zulu (Marcelo Gomes, também ex-BBB4) fui eu que procurei, assim que saí do programa. Nós somos do mesmo meio (Zulu é lutador), nos encontramos nas lutas, um dando força para o outro.
E a Jose?
Tinha acompanhado ela pela TV no BBB anterior ao meu primeiro. Gostei da participação dela no programa e achei que ela saiu muito cedo. Torci por ela, até porque seria a primeira vencedora do Rio Grande do Sul. Depois que eu saí do meu, conheci melhor a Jose, uma menina muito simpática. Não chegou a ser amizade, ela tinha um namorado... E também porque ela trabalhava em São Paulo, e eu no Rio.
(O telefone toca pela segunda vez.) Posso atender? Agora deve ser trabalho.
Olá, tudo bem? Não posso agora, estou dando uma entrevista (...)."
Quem era dessa vez?
Reporte de site. O Fuxico é da Globo?
Não, é um concorrente.
Não posso dar entrevista, então. Pra ganhar multa, obrigado, não. Prefiro tirar a dúvida (pega o telefone para ligar).
"Fala, Kadu! A gente pode dar entrevista para site que não seja da Globo? Tá bom, obrigadão."
Era o Kadu (Carlos Eduardo Parga), o terceiro colocado, acabamos tendo as mesmas exigências contratuais, e a gente sempre se liga, se ajuda. Ele me perguntou, por exemplo, quanto deveria cobrar de cachê nos eventos. Ligo para a Lia de vez em quando, também.
E seu perfil é bem diferente do perfil dos demais candidatos, certo? Você ficou isolado dentro da casa por causa disso...
Legal isso, né? Porque eu ganhei. Pra você ver que eu não estava tão isolado. Às vezes a gente é o rejeitado em lugar e ganha a simpatia de outros por causa disso. No Big Brother, é quase um crime você isolar alguém... As pessoas aqui fora protegem. Não foi só por isso que eu ganhei, mas esse isolamento inicial foi a primeira coisa que despertou torcida por mim. Eles sentiram que eu fui injustiçado.
Você já tinha participação de outra edição e eles acharam injusto...
Ninguém tem o direito a uma segunda chance? O cara que foi para o presídio não tem direito? A criança reprovada no colégio não pode repetir a série? Foi maravilhoso, para mostrar que as pessoas podem mudar.
Você acha que o público brasileiro também mudou nesses seis anos?
Não sei... O Big Brother ganhou 150 milhões de votos, deveria ser um exercício. O pessoal do projeto Ficha Limpa (em tramitação no Congresso, que visa a proibir a participação em eleições de candidatos que possuam condenação prévia na Justiça) estava há tempos recolhendo assinaturas e tinha pouco mais de 1 milhão. Como seria bom se as pessoas transferissem essa gana de votar para algo que melhorasse a vida delas.
Então o brasileiro não mudou?
As pessoas estão mais críticas. Não acreditam em tudo o que veem. A internet beneficiou isso, as redes de relacionamento. Esse BBB foi um marco da interatividade: muita briga entre comunidades, muita gente blogando.
E a parte negativa dessa repercussão, suas frases polêmicas dentro do programa? Já recebeu algum processo?
Até agora, nada. O povo não tem humor. Sou acusado de coisas que nem sabia. O contexto em que falei que não gostava de poodle, por exemplo, foi de humor.
O que você falou sobre os poodles?
Falei que não gostava de poodle, que era um ET misturado com cachorro, que não para de latir. Tudo que é poodle me vê e ataca minhas pernas... O que vou fazer? Não tenho nada contra quem tem, é legal ter cachorrinho. Já começaram a dizer que eu estava fazendo apologia de maltratar animais... Nada a ver... O Costinha (humorista), hoje, teria uma dificuldade incrível para trabalhar. Sempre tem alguém para levantar um dedo acusador. Tudo o que eu falo, agora vem "associação" criticar. Recentemente, choveu no Rio e as ruas ficaram alagadas. Não vou falar mal dos bueiros porque vai ver tem uma ONG de bueiros que pode me processar (risos).
Você é homofóbico?
Sou a favor de cada um ser feliz fazendo o que gosta. O mundo seria melhor, teria menos barbaridade se as pessoas não fossem reprimidas por suas opções. Não julgo a pessoa pelas opções dela. Se é bom aluno, bom companheiro de trabalho, sem problemas. Acho que é direito meu não querer fazer certas brincadeira.
Que tipo de brincadeira? Você não dançava nas festas do BB, por exemplo.
Se não gosto de lambada, a música,não vou a clube onde se dança lambada. Não vou para não ficar reclamando lá. Estão no canto deles, fazendo o que querem, e acho que têm mais é que fazer. Se eu estou ouvindo um som pesado e não estou incomodando ninguém, não vou gostar que alguém vá lá e diga que é uma droga. Cada um no seu lugar.
Você gosta de heavy metal, hardcore... Encheu o saco com a música das festas?
Tem música que não vou dançar, cara. It’s raining men, Hallelujah, it’s raining men"... Como eu vou dançar isso? "Aleluia, tá chovendo homem"? Porra, qual é? "I Will Survive", por exemplo, não me imagino cantando. Não tem problema alguém cantar e gostar, entendeu? Tenho que explicar tudo... Olha só que saco. Falo três minutos e explico cinco! Porra... Voltando... Não é só tolerância, tem que ter respeito, e saber respeitar o limite do outro. Foi por isso que lutei no programa. Não sou do tipo de cara que, em estádio de futebol, xinga o juiz porque todo mundo está xingando. Não vou com a massa. Reflito e, se ele realmente merece, xingo junto (risos). Só grito se vale a pena.
Você tem um suástica tatuada no corpo, e isso também virou polêmica. Tem alguma simpatia pelo símbolo?
Isso é um símbolo da mitologia japonesa, geralmente associado à filosofia budista. Tenho ele tatuado dentro de um samurai. É um símbolo muito forte, que a criança desenha naturalmente, como a cruz, o sol...
(Toca o telefone mais uma vez.)
Abaixo de 16 (mil, limpo para mim, nada feito. Começa com 20, depois negocia. Tem que puxar pra cima, agora, no início. Vou ficar em camarote? Consegue acompanhante, vou levar a mulher.
Voltando à suástica...
Fiz quando era adolescente, estava começando a praticar Shorinji Kempo, uma arte marcial de monges. Na minha vida, nunca deu problema. Todos sabiam que era um símbolo milenar, e não referente a uma carnificina que aconteceu há 60 anos. Questão de contexto. Símbolos não fazem mal. Tem que ter cuidado com o homem, com as ideias que estamos seguindo.
Outra tatuagem polêmica sua diz "Sem fé". Depois do prêmio, sua fé ressurgiu?
Não tenho religião. É como aquela música da Rita (Lee): "Não acredito em nada, não. Até duvido da fé (...). Uma pessoa comum, um f ilho de Deus". Aprendi na vida a respeitar muita coisa, principalmente o que não compreendo. Tenho sonhos, visões, um sexto sentido. Na outra edição do BB, meu avô paterno conversava comigo em sonho. Dessa vez, foi minha avó materna. São as duas pessoas que morreram até hoje na minha família. Não eram mensagens específicas. mas tive muito pesadelo lá dentro, aquela luz forte de manhã, aquela rotina intensa... Tive uns sonhos esquisitos.
Você morou na Nova Zelândia. Foi pra lá por causa do Mau Rakau (arte marcial praticada pelos índios maoris)?
Não, nem tinha conhecimento disso ainda. Na real, queria viver em um país de língua inglesa, e a Nova Zelândia era o mais fácil para brasileiro entrar, mais fácil de conseguir visto de trabalho. Conheci uma realidade diferente, e isso me deixou ainda mais patriota e apaixonado pelo Brasil.
Por quê?
Aqui a gente se diverte sem dinheiro. Lá é tudo caro: cerveja, ingresso de boate... Aqui há uma felicidade que a gente não tem noção. A mulher brasileira...
O que tem a mulher brasileira?
As mulheres de fora não se cuidam tanto, não têm o corpo trabalhado... A mulher brasileira é a melhor do mundo, em todos as aspectos. Higiene, vaidade...
E a mulher de lá, o que tem de tão ruim?
Na Nova Zelândia, eu trabalhava em um pub que tinha um centro de depilação ao lado. A propaganda era engraçada, pedindo para a mulher se cuidar mais, como um anúncio do Ministério da Saúde, como foto de uma mulher com pelos saindo pela calcinha, fugindo pela perna e pela barriga (risos). Não cheguei a ter contato tão íntimo assim com as moças de lá, mas brasileiros com quem convivi contavam histórias hilárias, de como elas não aparavam sobrancelhas, buço. É difícil usarem salto alto, saia justa, decote. Brasileira se veste com sensualidade. Lá se confunde isso com promiscuidade. (O telefone interrompe a entrevista outra vez.)"Oi gata! Tô dando entrevista aqui pra SEXY, estão fazendo ensaio sensual comigo (ri, depois fecha a cara com o que escuta). Hã? Como depois? Não vai vir pra cá? Por quê? O que houve? Só quero saber o que houve, pombas. Tá bom, beijinho."
O que sua mulher acha do assédio a você?
Fica puta. Me ligou agora, meio bolada. Dever ter visto algo na internet. Mas estou tranquilo, me comportando. Saio só pra trabalhar. Ela me dá a maior força. Estamos juntos há cinco anos. É muita gente se metendo, querendo aparecer. O negócio é ficar tranquilo, relaxar.
O que vai fazer com R$ 1,5 milhão?
Não quero mexer nesse dinheiro. Não é muito. Está cheio de político com "trocentas" vezes mais. R$ 1,5 milhão pode ser perdido rápido. Tenho que valorizar o arroz e o feijão que eu como.
***
Revista SEXY, maio de 2010
Págs: 32, 33, 34 e 35.
Nossos agradecimentos a @analuck1312
Revista SEXY, maio de 2010
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